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15 de abril de 2013

Normal

Invejo-vos pessoas que têm uma vida pacata, funcional, tal como se fosse uma propaganda de horário nobre: acordam com sorrisos, tomam o pequeno almoço, dão um beijo ao pai e á mãe e vão para a escolinha. Depois o pai vem buscar-vos de carro e vão para o parque onde lancham biscoitos Milka.
Nem sabem a sorte que têm. Tão normais, com uma vida tão perfeita.
Há aí jovens que lidam diariamente com fome, bullying, a mãe bêbeda  o pai drogado, o irmão que levou um enxerto de porrada porque deve dinheiro, o tio que é viciado em apostas de cavalos.. Há crianças que nunca fizeram mal, mas por alguma razão têm cancro, sofrem de Asperger ou de bipolaridade, pessoas que se cortam, raparigas com complexos em relação ao corpo, rapazes antissociais... Esta vida chama-se A Realidade. Não fechem os olhos a essas pessoas, os problemas deles não são o facto do comando da televisão estar a uma distância longínqua  ou não haver bateria no telemóvel, é mais acordar cada dia, e ter de sair da cama, enfrentar um dia como um gladiador enfrenta um leão. É mais ter de olhar para as expressões maliciosas no rosto dos outros, os outros que são livres de preocupações e dão-se ao luxo de saberem quem são, de saberem para onde vão e onde pertencem. Não são pessoas com dúvidas existenciais, ou pessoas que perderam-se no seu caminho, que estão confusas, nervosas, sozinhas.

Honestamente... Não é o meu caso. Numa escala de 0 a 100, eu seria um 75 feliz. Mas nem por isso deixo de observar, de adivinhar as histórias de quem não se cruza no meu caminho. Cada um de nós tem um currículo, um filme que é uma vida. Somos como um teatro, uma película ao vivo. Todos temos histórias para contar. Por isso, ganhem consciência de que há gestos, absolutamente inocentes da nossa perspetiva que podem alterar por completo o teatro daqueles que têm mais preocupações.

Apenas
abram
os olhos.


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