Cito uma frase de um filme que vi hoje:
- Porque é que as pessoas se casam?
- Paixão?
- Errado. As pessoas casam-se para que testemunhem
a sua vida.
Dá que pensar, não é? E continua: temos tantos
momentos interessantes da nossa vida que ocorrem e que infelizmente apenas nós
e mais uns quantos são testemunhas oculares, a autenticidade dos acontecimentos
está apenas sob a manobra da nossa visão, são apenas umas versões nossas das
histórias acima dos momentos, que eles até estão sujeitos a ser manipulados e
perder a sua genuidade.... E ainda existem os momentos insignificantes para os
outros, acontecimentos fúteis e banais que para nós são especiais, e que temos
uma urgência de partilhar: as primeiras palavras de um filho, a nossa descrição
do sabor do chocolate, as nossas emoções ao experimentar algo de novo, o
nervosismo ao enfrentar uma entrevista de emprego... Estas pequenas coisas são
detalhes para os outros, mas para nós são como o sal do pão, e temos uma
necessidade natural de partilhar estes pormenores com alguém. E lógico que a
vizinha do andar de cima não estará interessada (ou talvez até esteja, se for
uma coscuvilhice), e também não temos intimidade suficiente para partihá-la com
o nosso patrão, ou espontaneidade para contar a um colega; para isso precisamos
de companhia, precisamos de um par de ouvidos para despejar estas
insignificâncias, e sobretudo queremos provocar uma reação no ouvinte: não
podes limitar-te a ouvir, tens de te rir comigo, chorar comigo, ficar chocado
com o que eu sobrevivi, admirar-me.
É um egocentrismo tão natural, tão nosso, que
quase não é pecado.
Temos então de ter um companheiro de todas as
horas que seja legalmente obrigado (pois assim o disse no registo civil) a
ouvir as nossas fábulas e aturar o nosso feitio. A justificação, é o amor.
Por amor o fazemos.
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