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27 de maio de 2013

Caso


Cito uma frase de um filme que vi hoje:
- Porque é que as pessoas se casam?
- Paixão?
- Errado. As pessoas casam-se para que testemunhem a sua vida.

Dá que pensar, não é? E continua: temos tantos momentos interessantes da nossa vida que ocorrem e que infelizmente apenas nós e mais uns quantos são testemunhas oculares, a autenticidade dos acontecimentos está apenas sob a manobra da nossa visão, são apenas umas versões nossas das histórias acima dos momentos, que eles até estão sujeitos a ser manipulados e perder a sua genuidade.... E ainda existem os momentos insignificantes para os outros, acontecimentos fúteis e banais que para nós são especiais, e que temos uma urgência de partilhar: as primeiras palavras de um filho, a nossa descrição do sabor do chocolate, as nossas emoções ao experimentar algo de novo, o nervosismo ao enfrentar uma entrevista de emprego... Estas pequenas coisas são detalhes para os outros, mas para nós são como o sal do pão, e temos uma necessidade natural de partilhar estes pormenores com alguém. E lógico que a vizinha do andar de cima não estará interessada (ou talvez até esteja, se for uma coscuvilhice), e também não temos intimidade suficiente para partihá-la com o nosso patrão, ou espontaneidade para contar a um colega; para isso precisamos de companhia, precisamos de um par de ouvidos para despejar estas insignificâncias, e sobretudo queremos provocar uma reação no ouvinte: não podes limitar-te a ouvir, tens de te rir comigo, chorar comigo, ficar chocado com o que eu sobrevivi, admirar-me.
É um egocentrismo tão natural, tão nosso, que quase não é pecado.
Temos então de ter um companheiro de todas as horas que seja legalmente obrigado (pois assim o disse no registo civil) a ouvir as nossas fábulas e aturar o nosso feitio. A justificação, é o amor. Por amor o fazemos.

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