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24 de julho de 2014

Cí-vio


Adoro viciar-me. Não é saudável, não. E nem sequer é o que especificamente cada sensação de cada vício nos provoca. É o alívio que vem depois da abstinência, o prazer máximo momentâneo. Um cigarro, chocolate, milho frito, um beijo, uma pessoa. A primeira passa após um longo período sem fumar. O derreter obsceno do chocolate na língua que provoca um mini orgasmo paladar, até o sabor desaparecer completamente, o viciante e cancerígeno sal fino aliado ao crocante e aromático milho, que nunca sacia - colocamos punhados e punhados na boca distraidamente, até ver com tristeza o prato ou o pacote esvaziar, ou até sentir a dormência na língua ou a desidratação da garganta...  O beijo. Aquele sôfrego e intenso beijo, de quem quer devorar os lábios, a língua, a alma, o ser, tudo, tudo, até à exaustão. A pessoa... A pessoa que nos deixa saudades, que no provoca risos quando presente, que nos provoca choro quando ausente, que nos deixa um furo no peito, do tamanho do coração. Mas quando a vemos; não, quando estamos na expetativa de a ver, o furo emenda-se temporariamente. Enche-se de calor e de suspiros. De genuína felicidade. A saudade que está a ser consumida. Ansiamos pelo reencontro, qual fiel cão a abanar a cauda, qual impotente criatura que ama incondicionalmente. E no reencontro, há uma pequena explosão cósmica, estrelas cadentes morrem, universos nascem, cometas caem, o mundo dá uma volta de 360 graus. Há aquele abraço forte,  que magoa, mas que tem o intuito de fazer o nosso corpo difundir com o outro, como duas massas sólidas que se querem líquidas naquele momento só para estarem mais próximas. É assim, o vício.

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